segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SERÁ QUE DEUS EXISTE....



Onde está Deus agora? Será que ele me vê? Será que me entende? Eu o procuro em mim, tentando fazer meus próprios milagres, tentando criar o meu mundo em 7 dias, tentando atravessar o oceano das minhas paixões. Nas minhas aflições eu também procuro Deus, procuro no meu vazio, procuro na minha dor, porque é como se ele tivesse se perdido...é onde também eu não posso me encontrar. Fico me perguntando se agrado a Deus, e creio que sim quando sinto que eu estou feliz, quando em minha consciência nada acusa o erro, quando sinto na simplicidade da incerteza que tudo está resolvido no meu coração. Eu creio em Deus quando acredito em mim, quando tenho fé em mim. Eu carrego em mim todas as incertezas do mundo, e com elas vou juntando os pedaços da minha imperfeita harmonia. Eu sei que quando a gente entende que encarar o mundo é algo como reinventar todos os dias os mesmos milagres, a vida se torna mais constante, assim como se torna constante a existência de DEUS.
De alguma forma eu sei no meu íntimo, que fazer uma oração é falar comigo mesmo. É como se eu tivesse que dizer "Aguenta mais um pouco", mas no fundo eu queria que Deus se materializasse em outra pessoa, para que eu pudesse ter um acalento como um abraço, para que eu pudesse sentir alguma força além da minha própria. Eu queria que Deus fosse as outras pessoas, uma pessoa que pudesse sorrir pra mim e dizer "tenha força" ou "Você vai conseguir". Perfeito seria se eu pudesse encontrar Deus em mais alguém....se eu pudesse olhar pro lado e entender que o Deus que está em alguém pudesse se unir com o Deus que está em mim.
Eu não quero Deus só pra mim, se assim fosse não haveria sentido em sentir a divina criação...Então eu saberia bem mais e não perguntaria sempre, onde Deus está nos meus momentos de aflição. Se eu o pudesse encontrar mais em outros. Eu não precisaria questionar a sua existência. Muitas vezes o mundo parece uma sala vazia, onde todo mundo espera ser recebido, onde todos aguardam ansiosos e individualmente por uma luz que os atenda. O mundo nos ensina que Deus está em outro lugar que não se sabe onde, que ele é mero espectador no nosso circo mundano.
Quando nos perdemos de Deus, temos a impressão de sermos abandonados. E estar perdidos é como ter um espelho na nossa frente, onde não há reflexo, onde não se pode enxergar. É como não saber aonde ir. Quando me perco de Deus, me perco primeiro de mim...e começo a procurar por todos os cantos do meu ser a forma de reencontrar a direção. Somos tão humanos que esquecemos de ser divinos.
A minha humanidade me diz que dependo todos os dias de uma dose infinita de espiritualidade. Me diz que preciso beber essa vida com sede. Me diz que apesar da sobrecarga do mundo o que me compõe em essência é a vontade de ser e de encontrar em mim um DEUS. Mesmo que seja na mais lúcida escuridão....

domingo, 3 de abril de 2011

NÃO TENHO CERTEZA....


Não se pode prever...aquilo que se espera ser!! Confesso...Eu gostaria de ser bem melhor, cada vez mais, inexoravelmente. Queria mastigar e deglutir a minha auto crítica e não pensar. Eu queria simplesmente não me reprovar por qualquer desejo aparente que fosse, por qualquer razão, mesmo a mais torpe. Adoro esse gosto bom de incerteza flutuando sobre o que eu sou...que ao mesmo tempo amarga e arde. Me dá arrepios sentir que quero sempre mais e mais....O que eu espero de mim é bem mais e maior do que a própria possibilidade me oferece.
Sabe de uma coisa...eu não sei bem se eu sou! Talvez seja confuso decidir sobre tal ou tais certezas a respeito de mim. Mas algumas delas contornam o conteúdo áspero e o molde transborda sempre como se borbulhassem na inquietude do meu ser.
Eu faço coisas e sou uma coisa. Eu sou uma coisa que se reconhece no meio de outras coisas, vou me coisando por aí. Sugando e vertendo novas formas de sobreviver. O caos é tão imperceptível que nem imagino o quanto posso me perder. Mas enfim, eu aguardo.
Talvez daqui a um tempo que não poderei prever eu esteja totalmente aparente e você possa entender quando uma coisa passa a existir. Nesse meio tempo eu estive completamente mergulhada no meu lado obscuro, sem enxergar a claridade dessa perfeição banal que as pessoas afirmam conhecer. Ser perfeito é fazer tudo perfeito....tudo no seu tempo, do jeito certo, da maneira segura, VOCÊ CONSEGUE???
Faço orações pro meu vazio..porque é lá que minha voz ecoa. Talvez alguém possa ouvir, não só o que eu penso, mas o que eu sinto. Eu tento me dominar... carne pro espírito, ou espírito pra carne??? Alguém sabe qual é o alimento??.....Eu estou praticamente faminta, então posso comer eu e posso comer você. Mas não dá pra preencher o vazio.
Eu quero ser o "SER" que o criador me prometeu...mas sou criatura criativa, mutável e inserida no desconexo da existência. Eu tento a tantos anos e até agora nada me vem a cabeça. Quando penso no que eu sou, não me vejo com clareza. Só sinto que estou sempre querendo o acalento da fé. Quando a gente não tem certeza de nada...a gente pode simplesmente pensar que DEUS não comete erros.
Eu quero mesmo é ser um rabisco na obra divina. Quero que em minhas linhas tortas, Deus me escreva como única. Como se somente eu pudesse contar a minha história.

Nesse mundo... incertos mesmo são os nossos amores!!!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

NÃO SOMOS DONOS DA BELEZA...



Me lembro de coisas antigas, de quando eu me maravilhava absurdamente com o mundo!! Eu passava pelas paisagens da minha existência observando a vida, simplesmente a vida! E a vida é incrível, em sua simplicidade, em sua lei absoluta e imutável. Na minha infância, a vida me comunicava com seus mistérios que havia algo muito além do que eu podia ver, eu percebia a mágica das coisas que eu não conhecia e tinha vontade de roubá-las um pouco e me sentir como Deus. Eu achava que todos os outros seres me entendiam, que eu poderia até falar com eles, e mesmo que eles só me olhassem eu acreditava que quando eu sorrisse eles sentiriam o que eu queria dizer. Eu achava que essa beleza da vida poderia ser tocada, que simplesmente se eu quisesse eu poderia olhar pro céu e pedir a Deus que ele me desse o poder de tocar sua fonte de beleza, a vida.
Me lembro de como era bom sentir a leveza da inocência de acreditar, de simplesmente acreditar. Chorei muito uma certa vez em que um pássaro estava lá parado no meio da estrada e meu pai parou o carro pra pegá-lo. Ele estava ferido, não lembro bem o que tinha acontecido com ele. Acho que alguém havia atirado alguma pedra e sua asa estava sangrando. O pássaro calmamente permanecia imóvel, ele não podia chorar e nem se rebatia pelo que sentia. Nem poderia ele me dizer nada, mas eu sentia que aquela calma era uma forma de dor. Então, sem dúvidas, sem pestanejar, eu o peguei e o coloquei no meu colo. Rezei ininterruptamente, pedi a Deus pra salvá-lo. Porque eu acreditava que naquele desejo que em mim gritava por dentro, se eu clamasse a Deus não haveria como aquele pássaro morrer. Ele ainda estava quente, e eu sentia o calor dele nas minhas mãos. Depois de horas acalentando aquela dor tão bela, vi que ele simplesmente morreu...morreu em sua calma, como se de fato estivesse ido embora, porque haveria de ir, se despedindo fria e inevitavelmente, como quem deixa saudades.
Me decepcionei bastante com Deus, por ter me roubado aquela beleza. Me roubando também algo que eu acreditava e me deixando desacreditada da certeza de que Deus entenderia minha vontade de salvar o animal. Já que ele não me ouviu....depois desse dia, sempre chorava quando minha mãe matava uma das aves do quintal para a refeição. Porque eu sabia que Deus jamais me ouviria...Embora cômico, quando a ave morria eu ía lá e jurava pros pintinhos que eles conseguiriam lutar pela vida, que eles tinham que ser fortes. Porque entendi que a vida é uma só, que a gente tem que cuidar dessa beleza de viver porque ela é simplesmente fulgaz, e só é nos dada uma chance.
Até hoje continuo maravilhada com essa vida estampada de coisas belas. Belas e sujas...mas sem nenhuma certeza, sem garantias de que Deus possa me ouvir, embora continue gritando por dentro, pedindo tantas vezes que ele em algum lugar me ouça. O que sei é que a minha chance de viver ainda está valendo e eu vivo. Se em algum momento chegar minha hora de pássaro, eu também vou ser calma. Vou simplesmente permanecer quieta e saborear a minha dor sem pena de mim. Porque eu sei que se o pássaro partiu é porque em algum outro lugar há de haver muito mais beleza....