sexta-feira, 16 de abril de 2010

MEU SONHO DE CRIANÇA....


Se os pais soubessem, se bem soubessem, entenderiam a vontade que os filhos tem de sentir, porque sentir é uma parte grande de ser. As vezes a gente precisa falar o que quiser e até parecer inconstante...e isso a gente vai somando junto com o destino.
Posso dizer que minha experiência de ser filha é o meu grande fardo...porque talvez por descuido, ou por ignorância, ou não soube me conduzir através da regra básica...Eu optei por sentir, e por sentir, falar e por falar agir...
Eu sou filha adotiva e conheço muitas, muitas e muitas pessoas que são. Esse é meu fardo...porque o filho adotivo, nasce endividado, propenso a cobrança...que a gente vai aprendendo a pagar e pagamos, com a honestidade de quem acha que deve.
Na escola, quando criança, na sociedade quando adultos, todos estão atentos....atentos ao nosso dever de agradar e agradecer, e graças a Deus agradecemos. Eu agradeço todos os dias a caridade, a solidariedade, e até mesmo ao comportamento cristão que me deu a oportunidade de ter Pai e Mãe, irmãos..."família". Até aí todos os papéis se cumpriram e realmente quem dirá que não???? Nem mesma eu diria...
Eu caprichei na Dor, pra esconder que estava tudo bem, que minha história realmente começa aqui, mas não sou uma pessoa detalhista...Aí que pequei!!!
Porque há uma grande diferença entre sentir e não querer sentir, sinto até hoje. A dúvida é a grande palavra chave, por isso nem todas as verdades são absolutas. Então, não tem como esconder, nem mentir ou até mesmo omitir o que está travado dentro da gente.
O que eu posso dizer da minha experiência é que, CANSEI DE PAGAR MINHA DÍVIDA.
Eu realmente não consegui ser feliz assim. Muita gente não sabe como é cruel a forma como você tem que lidar com os fatos. Pois as pessoas não sabem o tipo de coisa que você tem que ouvir e se submeter, quando criança e até mesmo quando adulta.
Talvez possa haver experiências melhores, mas a minha não me faz crer além do que eu sei.
Eu sinto dentro de mim um tipo de luto, infinito...um sentimento de perda!! Mas não por não ter a figura de PAI, MÃE, IRMÃOS, ect, porque isso me foi negado antes pelos meus pais biológicos e depois acrescentado pelos meus pais adotivos...Mas sinto pela falta de amor, dedicação, de compreensão, de acolhimento que pouco existiu. Sinto por não ter encontrado o apoio que eu precisava e preciso até hoje. E sinto muito mais, por certas atitudes demonstrarem que as pessoas acreditam que estão sendo coerentes. Que o que eles fizeram de "BOM", foi suficiente e justifica tudo. E quem poderia dizer o contrário??
Bem, o que me resta??? Me resta acreditar em mim, me superar, me recompor...resurgir!! nascer de novo...Nascer pra uma nova esperança de vida!!! E tentar encontrar o amor de outras formas....me resta esquecer!!! porque o que se vê por aí em muitas famílias, é a falta de companheirismo, de união, até mesmo de afeto...muitas pessoas não são capazes de demonstrar seus bons sentimentos, mas são totalmente competentes quando empenhados em externar seus conceitos e preconceitos inúteis.
Hoje eu não me arrependo de ter escolhido ter saído de casa, aos 21 anos, chutada, ferida no meu amor próprio e no meu orgulho,pois a essas alturas, o abandono já não era um fator inesperado, era um fato perene, apenas maquiado pela falsa ilusão do amor oferecido. Me dei a oportunidade de aprender com o mundo, a enxergar o que muitas pessoas não conseguem ver: PRECISAMOS UNS DOS OUTROS, NÃO POR DEPENDER, MAS PELA NECESSIDADE DE AMAR E SERMOS AMADOS. Eu não me arrependo, das vezes que passei frio, fome, medo, solidão. Não me arrependo de ter que começar do zero, com minhas próprias mãos...Nem de ter tido a coragem de demonstrar minhas fraquezas, mesmo quando muitas pessoas tenham se aproveitado ou me condenado por isso.
Todo mundo acha que quando adota um filho que não é seu, merece um título de bondade e até mesmo se beneficia do seu ato benevolente. Talvez seja esse brilho que ofusque o verdadeiro sentido da adoção...SE VOCÊ SE PROPÕE A AMAR, SERÁ QUE ESTÁ PREPARADO?? Preparado pra entender que o filho adotivo é um ser com as mesmas imperfeições de um filho legítimo. E isso vai por o seu dito "AMOR" à prova...
Então, aqui estou eu...não me arrependo de ter comprado minha briga pra ser eu mesma, com meus valores legítimos, meus defeitos legítimos, minha dor legítima. Não preciso ser agradecida pelo que eu não tive...agradeço sim por eu ter o orgulho de nascer de mim mesma e talvez de morrer por mim mesma.

Em meus sonhos e apenas neles, eu me vejo numa realidade diferente....e por um momento, em segredo, desfruto do meu desejo mais infantil...proteção!

2 comentários:

Aline R.S. disse...

Lindo texto! Cada palavra! Entendo seus sentimentos. São sentimentos de muitos filhos, mesmo que biológicos. Mas fazer o que, né?! Talvez praticar o perdão para diminuir o fardo da dor. Lembra da música pais e filhos? Nossos pais são crianças como nós. Beijos

Anônimo disse...

Conceitos (justificáveis ou não) e preconceitos, todo mundo, de alguma maneira os tem. Não aceitar um filho como ele é, independe de ser pai biológico ou adotivo, pq se não apoiou um filho adotivo em suas escolhas por preconceito, tb não apoiaria um filho de sangue. A despeito de qualquer dor, precisamos nos dar conta de que, nossos pais, biológicos ou não, embora não saibam ou não consigam demonstrar, nos amam, sim. E a maneira como nos tratam, se friamente, se sob rigorosas normas ou se nos julgam com preconceito e então nos deixam sozinhos, bem, há uma razão por trás disso tudo... talvez a maneira como foram criados, educados, talvez a convivência com pessoas de seu meio, ou suas crenças religiosas... O fato é que ninguém age sem estar condicionado por algo que o impulsione a fazê-lo. Somos quem somos ou tomamos esta ou aquela atitude ou fazemos esta ou aquela escolha condicionados por algo determina quem somos ou o que fazemos. Portanto, desejo que um dia vc consiga entendê-los, bem como as razões que os fazem ser quem são e agir como agem, para, quem sabe um dia, perdoá-los. O perdão liberta.

P.S. Só depois de escrever o comentário, e na hora de postar, vi o comentário anterior, da Aline... palavras meio repetidas, as minhas, rsrs, mas como dizia Renato Russo (tb citado por ela), "quais são as palavras que nunca são ditas?"

Fica com Deus!
F.